Scroll to top

Equação das Cores, Daniel Mullen

O pintor russo Wassily Kandinsky era capaz de materializar ondas de diferentes cores e formas geométricas a partir do som emitido por uma orquestra. Foi assim que pintou algumas de suas obras mais importantes, entre elas Composition VII (1913), feita após ouvir uma sinfonia na Alemanha. O som também pode ser visto em toda a sua potência pelo britânico David Hockney, capaz de misturar dois dos cinco sentidos ao pintar paisagens interpretando em cores o som da natureza. Essa relação entre diferentes planos sensoriais, chamada de sinestesia, não é algo vivenciado fisicamente pelo escocês Daniel Mullen, entretanto, foi a partir de uma experiência sinestésica específica que criou sua mais nova série, Synesthisia, que exibe agora em sua primeira exposição individual no Brasil, na Emmathomas Galeria.

Suas pinturas, feitas quase sempre em tinta acrílica, são formadas por dezenas de camadas, que, juntas, representam uma outra sensação comum para os que levam consigo essa aptidão extra: a de ver as cores do tempo. Foi por achar que Mullen também enxergava esses tons de acordo com os números, que a cineasta e artista americana Lucy Cordes Engelman aproximou-se do escocês. “Desvendo os códigos do tempo, encontrando as cores de cada número através dos olhos de Lucy”, explica o artista. Hoje, casados, ela colabora com a produção da série ajudando-o a definir as combinações cromáticas que acompanham as linhas traçadas pelo artista nas telas.

O processo criativo começa com a escolha de uma determinada data pelo casal. Cada fração matemática que a compõe, emite no cérebro de Lucy um tom específico. “Um exemplo é o número dois que, para ela, é representado pela cor amarela”, explica Mullen. Tais perspectivas e jogos de ilusão de ótica que ocorrem entre a combinação da pigmentação e da geometria nos remetem diretamente ao movimento cinético, que surgiu na Paris dos anos 50.

Em séries anteriores, o ponto de partida de Mullen era sua paixão desde a infância pela arquitetura e pela construção de espaços. O que mais o fascina no gênero é criar ambientes e logo depois esvaziá-los, tirando, assim, tudo que possa determinar escalas. Entre os arquitetos que estuda estão mestres na área Le Corbusier e Zaha Hadid. Já em Synesthisia, o artista mantém a perspectiva como herança e coloca as cores como ponto de partida para projetar tais espaços e direções. “Minha pintura é um portal para que o expectador mergulhe em uma experiência sensorial. Quero que ela seja um lugar de reflexão.”

Filho de um pintor por hobby, Mullen nasceu e foi criado em Glasgow em escolas que seguem a metodologia Waldorf, a que ele credita a desenvoltura criativa, que o levou a seguir a carreira de pintor. Graduou-se em 2011 em Artes Plásticas pela Gerrit Rietveld Academy e, desde então, vem exibindo seu trabalho internacionalmente, em cidades como Londres, Nova York, Vancouver, Berlim e, agora, São Paulo. “O tempo e as cores são os dois fatores variáveis e necessários para desvendar essa equação.”

Ana Carolina Ralston
Curadora

Related posts