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Flávio Rossi: Desfragmento

Toda pintura é um acidente.
Mas, ao mesmo tempo, não é,
já que precisamos selecionar qual
parte desse acidente vamos preservar.
Francis Bacon

Se muitos artistas buscam construir personagens à perfeição, outros encontram no acidente seu fluxo criativo natural. É essa trajetória invertida que rege o trabalho do paulista Flavio Rossi e que aparece agora em Desfragmento, exposição de sua mais recente série de obras, em cartaz na Luis Maluf Art Gallery.

No início, o universo de Rossi era habitado por personagens com diferentes proporções, que protagonizavam quase que exclusivamente as telas. Tais figuras com tom realista tomaram corpo ainda na infância do artista, que desde cedo mostrou ter talento para retratar o mundo de forma figurativa – mas sempre com um toque de dramaticidade. Incentivado pelo pai, começou a carreira como ilustrador, mas as distorções das figuras que desenhava logo o levaram para a caricatura, pela qual ganhou inúmeros prêmios, além de assinar capas da icônica O Pasquim, à convite de Ziraldo.

A trajetória em direção à tinta e à escultura era inevitável. Agora, no entanto, seus reconhecíveis personagens aparecem entre outros muitos elementos, que compõem a produção. Uma sobreposição de figuras tomam formas quase abstratas em Desfragmento, um nítido retrato de nossas mentes nos tempos atuais – como um de feed de Instagram, que mistura as informações de acordo com a rolagem da tela, até formar uma imagem concisa de todas essas referências. “Uno pequenos e grandes elementos, transformando-os em uma espécie de quebra-cabeça”, explica ele.

Nesse processo, Rossi também coloca nos trabalhos a materialidade da tinta, buscando volumes nas pinceladas. A construção de cada obra fica mais aparente e orgânica, trazendo a massa de pigmento para o papel de protagonista. “Quero deixar os personagens camuflados, para que sejam descobertos aos poucos pelo expectador.”


Para tais produções, ele reuniu inúmeras imagens capturadas na Internet e fez colagens virtuais. A partir delas, começou a pintar. “Vivemos rodeados por computadores. Por isso, decidi que minhas ideias passariam por essa máquina para daí voltarem para o mundo real através dos pincéis”, explica

Em meio a essa abstração, reconhecemos algumas referências da trajetória de Rossi, como o amor pelo jazz. Rostos de ícones do gênero, como Charlie Parker e John Coltrane, aparecem dissolvidos entre os tantos recortes que formam seu trabalho. Ao fim da mostra, uma espécie de santo sudário em madeira reúne as impressões dos trabalhos exibidos – a peça acolheu testes de tinta, colagens e resina durante todo o processo de produção da série, transformando-se em uma verdadeira obra de arte. Um resumo dos vários acidentes que aconteceram nessa bem-sucedida trajetória.

Flávio Rossi: Desfragmento

Curadoria: Ana Carolina Ralston

Luis Maluf Art Gallery: Rua Peixoto Gomide, 1.887, Jardins, São Paulo.
De 20 de setembro a 31 de outubro 

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