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(IM)PERMANÊNCIA, Paula Costa

A etimologia da palavra que dá nome à exposição de Paula Costa alude ao nosso constante estado físico e mental. ‘Condição do que não dura, do que é instável’, como é definida, é o cerne do trabalho da carioca, que agora reverbera pelo espaço expositivo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

“Acredito que a impermanência é a própria experiência humana dentro da existência”, define ela. “Não há nada na Terra que não se transforme ao longo do tempo e que não esteja se transformando neste exato momento.” Com esse pensamento, Paula trabalhou durante os últimos anos a partir das diferentes etapas da vida da flora, exibindo sua efemeridade em composições de arte viva, como a instalação Penetráveis, em que podemos caminhar entre flores, envoltos em seu aroma e sendo tocados por pétalas e fios de lã. Usando tais linhas como se fossem tinta, a artista pincela palavras nas rosas penduradas, deixando com que aqueles que atravessam esse jardim invertido possam interpretá-las de acordo com sua própria realidade.

A denúncia também é fruto de inspiração para a arte de Paula, que transita entre suportes permanentes, como fotografia e escultura, e impermanentes, como instalações site-specific e performances. Assim como o polonês naturalizado brasileiro Frans Krajcberg (1921-2017), que criava gigantescas esculturas a partir de raízes e troncos calcinados, ela dá voz ao brando da natureza usando o próprio corpo como veículo em uma videoinstalação criada especialmente para a mostra.

Pela primeira vez, a artista se utiliza de tecnologia para transportar o espectador para dentro da obra, transformando sua produção em uma experiência artística imersiva. Entre as projeções criadas meticulosamente por ela, palavras aparecem bordadas em folhas e flores, mergulhando os visitantes nesse universo onírico. O sentir, mais uma vez, vai de encontro àqueles que entram em contato com suas criações. Somos essenciais para que a sua arte aconteça em sua totalidade.

Outro desdobramento de sua obra atual é discutir a obsessão humana na busca pelo eterno, pela permanência neste mundo, pela vida que nos escapa entre os dedos. Por meio de dois novos suportes, a resina e o gelo, ela trabalha com volumes de diferentes tamanhos e formatos, que paralisam a decomposição a que todos os corpos vivos estão predestinados. Em produções de videoarte, mostra o desabrochar de tais materiais, o derretimento de um aquecimento mundial que parece desmembrar toda a forma de vida. A beleza da finitude, enfim, está diante dos nossos olhos. “Podemos tentar permanecer iguais ou nos desafiar sendo a versão que é possível ser naquele momento. Somos camadas de tempo, experiência e vida. O tempo não é separado de nós. Nós somos o tempo”, completa.

 

Ana Carolina Ralston
Curadora

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