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Linhas da Vida

Chiharu Shiota sonhou que encontrava-se presa dentro de uma tela. Desde então, concentrou-se na performance e instalação como suportes para entrelaçar arte e vida. Assim, Shiota escolhe objetos imbuídos de visceralidade para montar suas obras e usa de seus característicos emaranhados de linha para atravessar ciclos, evocar memórias, traçar destinos e, de tal forma, conectar tudo. 

A retrospectiva Linhas da Vida, em cartaz até fevereiro de 2020 no Centro Cultural Banco do Brasil, revela uma trajetória multidisciplinar em um recorte que soma cerca de 70 obras, datadas do início da carreira da artista até os das de hoje. Organizada em cinco núcleos pela curadora Tereza Arruda, a mostra atravessa as pinturas e fotografias ao derramar espacialidade por meio da constante produção tridimensional de Shiota, que choca pelo acúmulo em uma dinâmica orgânica que expõe os vestígios da condição humana. 


Além da Memória (2019) 

Entre as boas surpresas da exposição está o site specific Além da Memória (2019), que incorpora-se à arquitetura do CCBB. São 13 metros de um emaranhado de linhas que, sobre a cabeça de quem adentra o edifício histórico no centro de São Paulo, mais lembra um céu de nuvens brancas. A obra monumental, que pode ser vista de todas os andares, soma mais de mil folhas de papel que comprimem-se entre as tramas e atentam à necessidade de preservar memórias e escrever histórias. 

A densidade da produção artística de Shiota reflete sobre o propósito da vida e as conexões entre todos os seres. “Quero unir as pessoas no Brasil, não importando sua origem, status social, formação educacional, nacionalidade ou qualquer outro fator divisor. Como humanos, devemos vir juntos e questionar o nosso propósito na vida e por que aqui estamos”, pontua a artista.


Dois barcos, um destino (2019)

Uma metáfora sobre avançar sem saber o que está por vir aparece no subsolo em Dois barcos, um destino (2019), lembrando-nos da inconstância e surpresas dos caminhos. “Os barcos simbolizam os portadores de nossos sonhos e esperanças, levando-nos através de uma jornada de incerteza e admiração”, comenta a curadora.


A chave na mão (2015)

Embarcações também são protagonistas na instalação A chave na mão (2015), que representou o pavilhão do Japão na 56ª Bienal de Veneza. Como duas mãos receptoras, os barcos foram colocados em um emaranhado de 180 mil chaves que simbolizavam o segurar ou deixar partir. “Coletadas por Shiota em uma campanha internacional, as chaves representam para ela memórias pessoais que nos acompanham na vida cotidiana”, completa Tereza de Arruda. 

Campos imaginários e espirituais sugerem como nos conectamos com o universo, em uma busca constante por pertencer apesar da transitoriedade de ser e estar. Metaforicamente, Shirota é capaz de atravessar o espectador com a grandeza estética que assume para promover um despertar das emoções humanas.

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