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Louise Bourgeois

Filha de uma tapeceira e restauradora, a artista francesa Louise Bourgeois cresceu com agulha e linhas nas mãos vendo sua mãe costurando e refazendo tecidos velhos de tapeçaria.

“Minha costura é uma ação simbólica contra o medo de ser separada e abandonada. Nós percebemos no trabalho de Bispo do Rosário que ele também tinha medo de perder o contato”, escreveu ela, sobre a obra do sergipano para o prefácio do livro Século XX – Arthur Bispo do Rosário, a pedido do amigo e curador Paulo Herkenhoff.

O alinhavar cuidadoso uniu tanto os retalhos que compõem Femme (2004), figura criada por Bourgeois que evoca a Vênus de Willendorf, símbolo da fertilidade paleolítica que tanto a influenciou ao explorar a feminilidade, quanto os que deram origem às inúmeras obras produzidas por Bispo do Rosário, entre elas o emblemático Manto da Apresentação, peça que costurou e bordou com diligência para vestir no dia de seu encontro com Deus, no Juízo Final. A cor azul que evoca a espiritualidade da linha desfiadas dos uniformes do hospital psiquiátrico para tecer suas criações também aparece estampada em algumas das 16 pinturas feitas em tecido da suíte Do Not Abandon Me, uma produção conjunta de Bourgeois e a britânica Tracey Emin ¬– a cor é uma das preferidas da francesa, que a elegeu de forma recorrente em seu legado. Em algumas das obras da série, ela apenas deixou que a tinta penetrasse na trama, fazendo com que o próprio tecido produzisse o desenho final. A partir daí, as peças ganharam as diminutas, mas não menos fortes, figuras femininas com alto teor sexual traçadas por Tracey Emin, acompanhadas por frases que recorrem ao temor relatado por Bourgeois de desabitar o mundo, diferentemente de Bispo que sem temor queria transcender na sua viajem espiritual e religiosa para o fim do mundo no Juízo Final.

Ana Carolina Ralston
Co-Curadora
Fábrica de Arte Marcos Amaro
Fundação Marcos Amaro

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