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Lustre, Marcos Amaro

 

O lustre que agora se decompõe no chão da suntuosa casa projetada pelo engenheiro-arquiteto Alfredo Ernesto Becker em meados dos anos 1950 para abrigar a coleção de Ema Klabin poderia facilmente ter feito parte da decoração criada à época por Terri della Stuffa para o espaço. Dos estilhaços do objeto, reverbera o romantismo de quando o mesmo flutuava no alto dos salões, reluzindo obras de arte do século 20 que o rodeavam como mariposas sob a luz. A sombra em que está imerso hoje, no entanto, evidencia sua proposta atual, colocando-o sob uma perspectiva enviesada – busca ressignificar íntimas memórias afetivas. Diferentes ângulos de nossas memorações são uma constante na produção artística de Marcos Amaro, que apresenta a escultura Lustre.

A obra, produzida no Brasil logo que o artista regressou de uma pujante temporada na Bélgica, faz parte da série Diálogos com Meu Pai, na qual Amaro se aproxima novamente de objetos de carácter fraterno, lançando a eles um novo sentido. Se houve fases em que ele se vinculou às lembranças do pai por meio de peças corpulentas, aqui Amaro volta a penetrar em objetos ordinários, levando gesso, tinta, areia, cimento e outros materiais rústicos ao encontro de tais artigos tidos como notáveis. Seringas de penicilina aparecem entre materiais incinerados pelo artista, em uma precisa associação ao entre-guerras, época em que tal substância foi descoberta e quando a família Klabin se mudou da Europa para o Brasil na busca de livrar-se de memórias ou futuros incertos.

Ana Carolina Ralston
Curadora

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