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Tear da suspensão do tempo

Tatiana Blass cria instalação que invade Museu de Arte da Pampulha e evoca a mitologia grega

A materialidade dúbia de um tear manual toma o Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte. Os fios vermelhos que compõem a instalação “Mais dia, menos noite”, da artista paulistana Tatiana Blass, adentram o museu como um grande tapete que carrega na simbologia o glamour e o luxo das noites de cassino. Em uma estética controversa que, ora aparenta estar por fazer, ora parece desfeita, a artista insinua o movimento, deixando ao visitante o papel de decifrar uma construção dissecada ou um desmanche de linhas.

Em diálogo com a arquitetura do museu, projetado por Oscar Niemeyer, a instalação avança e alcança também o jardim da Pampulha, assinado por Roberto Burle Marx. Montada primeiramente na Capela do Morumbi, em São Paulo, em 2007, a obra foi então nomeada “Penélope”, nome emprestado do mito grego que a artista tomou como referência. Penélope, solitária após o marido partir para guerra de Tróia, passa a ser assediada por novos pretendentes e compromete-se a casar novamente após tecer uma mortalha. Secretamente, desmancha o que tecia durante o dia aos olhos de todos, a fim de esperar o retorno do amado.

Nas generosas proporções do Museu de Arte da Pampulha, a instalação ganha um novo formato, novas simbologias e um novo nome. No entanto, a referência ao mito e a transformação que parte da suspensão do tempo são mantidas como guias da artista para dispor as linhas institucionais vermelhas que inebriam quem adentra seu emaranhado.

 

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