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As pinturas multicoloridas de Delson Uchôa invadem o Rio

São litros de resina que Delson Uchôa aplicada no chão de cerâmica crua de seu ateliê em Maceió, capital de Alagoas. Meses depois, quando seca, o material descola-se, transformando-se em uma espécie de “manto de pele”, como o próprio artista explica, já que a camada “habitou o piso do ateliê durante todo esse tempo”. Nela, Delson acrescenta pinturas multicoloridas, um dos traços marcantes de seu trabalho. Em um processo que se chama autofagia, ele recorta pedaços dessa pele pintada e enxerta em outros trabalhos, novos ou antigos, costurando com agulha e linha.

A pesquisa, que começou em 2005 e dura até hoje permeia a exposição Autofagia – Eu Devoro Meu Próprio Tempo, em cartaz Até 18 de agosto na Anita Schwartz Galeria de Arte, no Rio. Lá, o público pode tocar e manusear as obras expostas, muitas delas com dupla face. “Eu me alimento de mim mesmo, do meu próprio tempo, e a pintura se alimenta dela própria”, conta o artista, integrante da emblemática mostra Como vai você, Geração 80?, organizada por Marcus de Lontra Costa e Paulo Roberto Leal na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio, da qual também saíram outros grandes artistas contemporâneos brasileiros, como Beatriz Milhazes, Leonilson, Leda Catunda e Daniel Senise.

A obra A Linha Alinha o Chão

Formado em Medicina, que abandonou para seguir seu caminho como artista, Delson sempre buscou aproximar o trabalho que faz com os pincéis do corpo humano. “A pele é o maior órgão de nosso corpo”, relembra ele. “Faço um transplante, um enxerto, um implante, construindo uma nova pintura.” Por isso, as peças alcançam grandes proporções, como Flor do Cerrado, um dos destaques da mostra carioca, que pesa 44 quilos e mede 4 metros de altura por 5 de largura. Nela, Delson produziu uma repetição em série da emblemática forma do Palácio da Alvorada, projetado por Oscar Niemeyer. “É um processo e é sempre soma. É o que eu sabia com o que estou sabendo agora – mesmo porque eu acredito que para a arte avançar ela precisa de alicerces que são feitos de herança e tradição que seriam sua identidade. Mas o resto é experimental.”

Flor do Cerrado

Anita Schwartz Galeria de Arte: Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Rio de Janeiro. Até 18 de agosto

 

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